Saiba tudo sobre a ISO 26000 e outras particularidades da sustentabilidade social, um braço primordial do desenvolvimento sustentável.
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Nos últimos anos, as discussões em torno do fim dos recursos naturais, do aumento da emissão de carbono e da conservação do meio ambiente ganharam um caráter urgente. Com isso, o conceito de desenvolvimento sustentável passou a receber ainda mais foco.
No entanto, ao contrário do que normalmente acontece, os debates sobre sustentabilidade não estão restritos à sua dimensão ambiental. Os âmbitos econômico e social formam, junto à preservação ecológica, o tripé que sustenta nossa caminhada em direção ao futuro.
A sociedade precisa avançar em todas as dimensões caso queira alcançar as metas traçadas em acordos nacionais e mundiais. Como a sustentabilidade social tem sido deixada em segundo plano até mesmo em estudos acadêmicos (LOURENÇO; CARVALHO, 2013), neste artigo vamos abordar algumas particularidades e características importantes desse aspecto tão essencial.
Neste artigo, vamos falar sobre:
- O conceito de sustentabilidade social;
- As semelhanças dessa ideia com a responsabilidade social;
- Os pormenores da ISO 26000;
- A importância da dimensão social para as empresas.
O que é Sustentabilidade Social?
É impossível falar sobre o conceito de sustentabilidade social sem relembrar o que significa o desenvolvimento sustentável em sua totalidade. Afinal, estamos falando de um termo que surgiu, em meados da década de 80, com o intuito de propor a conciliação entre o crescimento econômico e a preservação do planeta.
De acordo com Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega e criadora do termo, a proposta é “suprir as necessidades do presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprirem suas próprias necessidades”.
Após a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, o conceito foi complementado por uma dimensão ética que pautava, entre tantos temas, a redução das desigualdades sociais como uma perspectiva importante.
A questão ambiental manteve seu papel como pilar central, mas introduziu-se a ideia de que o lado social do desenvolvimento sustentável ajuda a garantir que as gerações futuras tenham qualidade de vida. Dentro disso, a proposta da sustentabilidade é ampliada para a harmonização dos âmbitos ambiental, econômico e social em prol de um futuro melhor.
Alguns teóricos, como o economista Ignacy Sachs, definem a sustentabilidade como um conceito dinâmico que se comunica com as carências atuais. Por isso é importante refletir sobre o desenvolvimento sustentável de modo amplificado, englobando as dimensões sociais, econômicas, ecológicas, culturais, políticas e territoriais.
A sustentabilidade social pode abranger alguns desses tópicos, visto que sua conceituação específica gira em torno da maneira como indivíduos e empresas afetam a sociedade. Por isso, entende-se que, por meio da aplicação desse conceito, é viável gerar renda ao mesmo tempo em que se colabora com o bem-estar da população, realizando diversas ações que estimulam a igualdade, a ampliação de direitos e o acesso a serviços básicos.
Resumindo, a vertente social do desenvolvimento sustentável defende que, além de preservar os recursos de uma região, as empresas têm que participar de forma positiva da vida social dos habitantes daquele ecossistema. Isso significa que tanto os funcionários quanto a comunidade em questão devem possuir uma vida satisfatória em relação a habitação, educação e saneamento.
E, mesmo que o foco pareça estar ligado aos setores mais carentes da população, é importante ressaltar que o investimento em práticas socialmente sustentáveis incentiva o progresso da região, impactando a população externa em nível macrossocial. A melhoria da qualidade educacional tende a resultar na redução das taxas de violência, por exemplo.
Entre tantas atitudes relevantes, é possível pensar em algumas opções que servem de inspiração:
- O apoio a instituições sociais que visam a inclusão;
- A implantação de uma escola de capacitação profissional;
- A ampliação do acesso à internet na comunidade local;
- A construção de uma equipe marcada pela diversidade;
- A criação de espaços comunitários, como hortas e bibliotecas;
- O incentivo ao uso de fontes renováveis de energia.
Sustentabilidade Social x Responsabilidade Social
A responsabilidade social é definida como a adoção de posturas que promovam o bem-estar coletivo do seu público interno e externo. Envolve uma série de ações empresariais que beneficiam a sociedade de forma voluntária, portanto, não comporta projetos impostos pelo governo ou incentivados por isenções fiscais.
É um processo contínuo que dialoga com o desenvolvimento sustentável, sendo usado inclusive como sinônimo de sustentabilidade social em alguns casos. A única diferença é que o conceito de responsabilidade social está conectado quase exclusivamente ao mundo dos negócios, enquanto o tema deste artigo aborda, com maior peso, a participação de indivíduos.
Muita gente se questiona acerca das semelhanças ou diferenças entre esses termos. Como a variação é quase inexistente, podemos dizer que uma empresa que toma decisões de acordo com a responsabilidade social também está devidamente inserida no contexto do desenvolvimento sustentável.
ISO 26000
Lançada em 2010, a ISO 26000 é uma norma sem propósito de certificação que define uma série de diretrizes relacionadas à implementação e gestão da responsabilidade social em empresas de diversos portes.
O objetivo dela é ajudar a incorporar práticas socioambientais na cultura organizacional, influenciando a tomada de decisões que gerem impactos na sociedade ou no ecossistema ligado ao negócio.
Em um dos seus pontos mais importantes, a norma define o termo responsabilidade social como:
“a responsabilidade de uma organização pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente, por meio de um comportamento ético e transparente que:
I – Contribua para o desenvolvimento sustentável, inclusive a saúde e o bem-estar da sociedade;
II – Leve em consideração as expectativas das partes interessadas;
III – Esteja em conformidade com a legislação aplicável;
IV – Seja consistente com as normas internacionais de comportamento;
V – Esteja integrada em toda a organização e seja praticada em suas relações”.
Para se adequar a essa linha de raciocínio, uma empresa precisa basicamente seguir os sete princípios descritos na ISO 26000 e incentivar comportamentos éticos em concordância com os temas centrais, que englobam aspectos ligados à economia, saúde e segurança.
Com o intuito de esclarecer as necessidades que cercam a adoção de práticas socialmente sustentáveis, vamos sintetizar esses princípios e normas descritos pela norma.
Os 7 Princípios da Responsabilidade Social
Accountability
Conforme esse princípio, cuja tradução mais próxima seria “prestação de contas”, as empresas devem responder de maneira correta às investigações legais, responsabilizando-se por seus impactos socioambientais e determinando as medidas que têm como objetivo minimizar os danos.
Transparência
Uma organização precisa ser transparente em suas decisões e atividades, divulgando, com antecedência, os possíveis impactos no ecossistema.
Comportamento Ético
Como o próprio nome indica, esse preceito demanda que as empresas se comportem de modo ético, baseando suas ações em valores como honestidade, equidade e integridade.
Respeito pelos Interesses das Partes
É essencial que uma organização considere e respeite os desejos de proprietários, conselheiros, clientes, associados e quaisquer outras partes interessadas no negócio.
Respeito pelo Estado de Direito
Cabe às empresas aceitar que o respeito pelo Estado de Direito, em que nenhum indivíduo ou organização está acima da lei, é expressamente obrigatório.
Respeito pelas Normas Internacionais de Comportamento
Muito próximo do item anterior, o sexto princípio se refere ao respeito pelas normas internacionais. Caso a legislação do país de atuação possua diretrizes diferentes, é necessário se aproximar ao máximo dessas regras.
Um bom exemplo hipotético seria a emissão de carbono na atmosfera. Se uma região tem uma lei discordante das normas internacionais, a empresa deve priorizar o respeito a essa legislação. Porém, não podemos usar essa diferença como motivo para ignorar as normas internacionais.
Respeito pelos Direitos Humanos
Esse princípio prega o respeito e a promoção dos direitos contidos na Carta Internacional dos Direitos Humanos, reconhecendo a sua universalidade e importância para a sociedade como um todo.
Os 7 Temas Gerais da Responsabilidade Social
Governança Organizacional
É o conjunto de processos, costumes e políticas que regulam a tomada de decisões, direcionando a implementação integrada de práticas sustentáveis com o intuito de maximizar sua capacidade de ser socialmente responsável.
Direitos Humanos
Os Direitos Humanos são essenciais para o Estado de Direito, portanto as organizações têm a responsabilidade de respeitar essas normas universais que dialogam, entre tantas coisas, com a liberdade, a igualdade, a inclusão e o acesso a direitos básicos.
Práticas de Trabalho
Esse tema abrange todos os comportamentos referentes a políticas trabalhistas, incluindo recrutamentos, capacitação, condições sanitárias, remuneração, transferência e rescisão. Deve ser estendida para contratações diretas, terceirizadas e autônomas.
Meio Ambiente
Parte integrante da sustentabilidade, as diretrizes de responsabilidade ambiental englobam todas as ações que impactam o meio ambiente. É primordial que as empresas arquem com os custos da avaliação de riscos, da poluição, do esgotamento de recursos e de qualquer outra frente que possa afetar a vida dos seres humanos.
Práticas Leais de Operação
O quinto tema geral se refere à conduta ética nos negócios, abrangendo práticas anticorrupção, concorrência leal e o envolvimento político responsável. O objetivo é estabelecer “relações legítimas e produtivas entre organizações” (ISO 26000).
Questões Relativas ao Consumidor
As organizações devem agir de maneira ética em relação aos clientes. Para que isso seja factível, é indispensável ser transparente na divulgação de informações, garantir a segurança e o suporte ao consumidor e promover o consumo consciente.
Envolvimento e Desenvolvimento da Comunidade
Toda empresa faz parte de uma comunidade e, de acordo com a ISO 26000, precisa ter um envolvimento positivo com ela. São vistas como boas atitudes, o fortalecimento da sociedade civil, o apoio a instituições sociais, o incentivo ao desenvolvimento sustentável, a geração de emprego, a ampliação do acesso à tecnologia e o respeito integral aos valores locais.
A Importância da Sustentabilidade Social para a sua Empresa
As iniciativas atreladas à sustentabilidade social oferecem várias vantagens para uma empresa, começando sempre pela construção de uma imagem positiva perante o público. Uma pesquisa realizada em 2019 pela SPC Brasil confirmou que uma empresa se importar com a sociedade, com o meio ambiente e com questões referentes à cidadania influencia a escolha dos brasileiros por ela em 73,3% das oportunidades.
Um levantamento da Union+Webster, divulgado pelo Sistema Fiep, também abordou esse comprometimento com a sustentabilidade. Segundo ele, 87% da população prefere adquirir produtos de empresas sustentáveis, sendo que 70% deste grupo não se importam em pagar mais por isso.
Além disso, negócios que aderem ao crescimento sustentável, apoiando a sociedade que os cerca em diversas dimensões, evitam situações que possam ser condenadas por esses mesmos consumidores atentos. Estamos falando tanto de tragédias com grandes proporções, quanto de atitudes internas que possam gerar algum incômodo social.
A união entre esses dois aspectos positivos fortalece a marca e alimenta um cenário no qual investidores, colaboradores e consumidores desejam a construção de um relacionamento sólido. Em outras palavras: sua empresa vai atrair novas oportunidades de negócio, profissionais especializados e clientes com alto grau de fidelização se investir em sustentabilidade social.
Para completar, a vantagem competitiva de empresas que implementam ações sustentáveis pode ser atestada por certificações de boa prática empresarial. A maioria desses selos, assim como a ISO 26000, depende de reformulações internas que acabam direcionando os processos produtivos rumo à economia circular.
A adoção de sistemas que permitem o reaproveitamento de recursos ajuda, por sua vez, a reduzir a emissão de carbono, criando um cenário em que as empresas geram lucros enquanto constroem um mundo mais sustentável para as gerações futuras.
Um bom exemplo de empresa que investe em responsabilidade social é a Natura. A marca de cosméticos se classifica como uma “geradora de impactos: econômico, social e cultural positivos”, incentivando a criação de projetos como o Instituto Natura e o Programa Amazônia para atingir as metas traçadas no documento Visão de Sustentabilidade 2050.
O Banco Bradesco também encontra seu espaço como fonte de inspiração, já que investe em média 7 bilhões de reais na educação de crianças, jovens e adultos por meio da Fundação Bradesco.
As pesquisas sobre o comportamento do consumidor, as vantagens corporativas e os exemplos de sucesso deixam claro que investir em projetos socialmente responsáveis é uma solução lucrativa e duradoura. Afinal de contas, com a necessidade imediata de se preservar recursos naturais e reduzir a emissão de carbono, empresas sustentáveis serão as únicas que conseguirão prosperar nas próximas décadas.
As preocupações com o tema tomam proporções cada vez maiores, moldando as formas de consumo, os posicionamentos de grandes marcas e as pequenas atitudes que preenchem nosso dia a dia. O planeta clama por atitudes cujo propósito seja preservar o meio ambiente, diminuir as desigualdades sociais e garantir que as próximas gerações tenham um futuro melhor.
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