Conheça o empreendedorismo de impacto social e os princípios desse conceito que promete contribuir com a construção de um futuro melhor.
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Desde 2002, a pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) faz um retrato completo do empreendedorismo em vários países. O último relatório revelou que aproximadamente 75% dos brasileiros conhecem alguém que iniciou uma empresa nos últimos dois anos, superando, apesar da pandemia, os quase 60% do estudo anterior.
Inclusive, a pesquisa realizada em 2019 já havia demonstrado que o sonho de “ter o próprio negócio” superou a vontade de “fazer carreira em uma empresa”. Em outras palavras, o que antes era o anseio de boa parte da população está perdendo espaço para o desejo de ser o seu próprio chefe.
Não é à toa que as motivações para empreender estão entre as informações mais curiosas do GEM. O estudo realizado entre 2020 e 2021 indicou, por exemplo, que 81,9% dos empresários entraram nesse ramo com o objetivo de “ganhar a vida” em um país com altas taxas de desemprego.
No entanto, esse valor apresenta uma queda em relação aos 88% que marcavam os resultados anteriores. O que nos leva a uma pergunta importante: qual é a motivação do momento?
De acordo com o GEM, o motivo que teve o aumento mais expressivo foi “fazer a diferença”. Ainda é cedo para dizer se a pandemia da covid-19 influenciou as respostas, mas os 65% de empreendedores que concordaram com essa afirmação colocaram o Brasil em sexto lugar no ranking dos países movidos pela vontade de mudar o mundo.
Uma colocação que explica o crescimento das discussões sobre tudo que compõe o empreendedorismo de impacto social. Você sabe do que se trata esse conceito?
O Conceito de Empreendedorismo de Impacto Social
O empreendedorismo de impacto social tem como propósito oferecer bens e serviços que ajudem a solucionar problemas sociais e ambientais, fazendo a diferença ao mesmo tempo em que gera lucro.
Bill Drayton é o empreendedor responsável pelo surgimento do termo empreendedorismo social, e segundo ele, essas organizações são lideradas por profissionais que apontam tendências, enxergam problemas ainda não reconhecidos pela sociedade e interpretam os questionamentos diários com uma perspectiva diferente.
Atuar desse modo é essencial para quem anseia impactar o mundo sem esquecer do sucesso financeiro. Um empreendedor de impacto social precisa entender a realidade de onde pretende atuar, lançar um novo olhar sobre o assunto e, com isso, criar produtos escaláveis para classes que vivem em estado de vulnerabilidade.
Alinhar transformações sistêmicas, contribuições para a qualidade de vida, gestões inovadoras e retorno financeiro não é uma missão fácil. Entretanto, em contrapartida, pode ser aplicada de forma prática em inúmeros setores estruturais, como é o caso da saúde, da habitação, da tecnologia assistencial, da educação, da mobilidade urbana e da alimentação.
Confira a entrevista que Drayton concedeu ao jornal O Globo em 2019
A Carta de Princípios para Negócios de Impacto no Brasil
Algo que acontece com frequência é a confusão entre negócios de impacto social, empresas tradicionais e organizações não governamentais, já que não existe nenhuma legislação referente ao assunto.
Para documentar algumas das diferenças que separam os três enfoques, a Força Tarefa de Finanças Sociais (FTFS) redigiu a Carta de Princípios para Negócios de Impacto no Brasil.
Nela estão os quatro princípios que diferenciam os negócios de impacto de ONGs ou empreendimentos tradicionais. Isso significa que uma empresa baseada no Empreendedorismo de Impacto Social deve se comprometer com a adoção de todos os princípios, mesmo que o faça de maneira gradual.
1) Compromisso com a Missão Social e Ambiental
Todo negócio de impacto social tem de explicitar o compromisso com sua missão social e ambiental em documentos legais e peças de comunicação. Além disso, é importante deixar claro como os produtos ou serviços irão gerar impacto positivo na sociedade e/ou no meio ambiente.
2) Compromisso com o Impacto Social e Ambiental Monitorado
A Teoria de Mudança deve ser declarada, monitorada e reportada de forma periódica. Esse processo inclui a explicitação das transformações que pretendem gerar e das métricas de resultado, o acompanhamento dos dados e a audição por uma organização externa.
3) Compromisso com a Lógica Econômica
A atuação dos negócios de impacto tem como foco a sustentabilidade financeira conquistada por meio das receitas oriundas de produtos e serviços. Isso “permite alavancar soluções sociais e ambientais a partir de soluções de mercado, economicamente viáveis e escaláveis no longo prazo”.
É permitido usar recursos filantrópicos ou subsídios no início, mas deve-se demonstrar a capacidade de ser economicamente sustentável por meio de investimentos e contratos comerciais.
4) Compromisso com a Governança Efetiva
“Os negócios de impacto consideram os demais atores do ecossistema como parte fundamental de seu desenvolvimento”. Segundo o documento, a governança efetiva ajuda na evolução de estratégias e na implementação de ações que deixem um legado superior ao valor extraído.
Para completar, essa estrutura inclui a comunidade no ambiente organizacional e garante transparência tanto na tomada de decisões quanto na comunicação com as partes interessadas.
As Características do Negócio
Usando os quatro princípios como parâmetros de direcionamento, é possível reunir algumas características que resumem o empreendedorismo de impacto social.
- Pensar em produtos e serviços de acordo com as necessidades das pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade;
- Ter a intenção de gerar impacto social;
- Adotar uma gestão ética e responsável, que inclui o cumprimento de todas as leis vigentes, o pagamento de salários adequados, transparência e respeito aos direitos humanos;
- Possuir uma operação que garanta a rentabilidade do negócio.
O Crescimento do Setor
De certa maneira, o crescimento do empreendedorismo de impacto não difere de outros conceitos sustentáveis ou sociais. Afinal de contas, todos são frutos de uma demanda global que surgiu em resposta ao crescimento das desigualdades e da extração desnecessária de recursos finitos.
Segundo o relatório “Investimento de Impacto na América Latina”, realizado pela Aspen Network of Development Entrepreneurs, negócios desse tipo movimentam cerca de 60 bilhões de dólares em nível mundial, registrando um aumento de 7% a cada ano.
A mesma pesquisa revelou que, somente no Brasil, os investimentos de impacto dobraram no último período analisado, saltando de 343 milhões para 785 milhões de dólares.
A única coisa que atrapalha esse crescimento é a falta de um marco legal específico. Ela atrapalha a definição de modelos de negócios, a expansão da agenda e a comprovação de que um empreendimento social tende a ser uma ótima opção de investimento.
Para Célia Cruz, diretora do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), isso impede que o Brasil alcance todo o seu potencial no setor. Em matéria publicada pelo Jornal do Comércio, ela afirmou que a nossa base da pirâmide é composta por um volume enorme de pessoas que se beneficiam desse tipo de empreendimento.
Nas palavras dela: “o mercado é enorme e tem muito a avançar”.
O fato é que, mesmo com as carências especificadas, o empreendedorismo de impacto social é parte fundamental da construção de uma sociedade mais igualitária e sustentável.
De acordo com a Carta de Princípios, a criação de um consenso jurídico na categoria ajudaria no desenvolvimento de um ecossistema de negócios de impacto, na criação de facilitadores e na “atração de recursos financeiros, humanos e tecnológicos”.
Isso permitiria, de forma prática, que um número significativo de pessoas comprometidas com um futuro justo e respeitoso fizessem a diferença por meio do empreendedorismo.
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