Conheça as características, vantagens e possibilidades ligadas à economia compartilhada, uma tendência cheia de potencial.
Tempo de leitura: 5 minutos.
A preocupação com o meio ambiente, representada principalmente pela escassez de recursos e pela emissão de gases poluentes, influenciou diversas mudanças na maneira como consumimos bens e serviços na nossa sociedade.
Apoiado na ideia de “fazer mais com menos”, o capitalismo consciente originou conceitos que se sustentam em dois pilares centrais: a democratização do acesso a produtos e a redução do impacto ambiental sem prejudicar o crescimento econômico de empresas e países.
Entre as soluções que ganharam destaque nos últimos anos, vale sublinhar tanto a economia circular quanto a economia compartilhada. Propostas diferentes que coexistem nesse cenário em que o desenvolvimento sustentável possui caráter essencial e urgente.
O que é Economia Compartilhada?
A economia compartilhada é um modelo socioeconômico baseado na troca, no aluguel ou no compartilhamento de bens. Seguindo as dinâmicas do consumo colaborativo em sua essência, a ideia é construir relações comerciais que abrem mão da posse com o intuito de aproveitar os recursos de forma inteligente e sustentável.
As bases para isso existem há séculos, remontando épocas em que os vizinhos dividiam suas posses por solidariedade ou ganhos econômicos. No entanto, o formato que conhecemos hoje começou a ser estruturado após a crise de 2008.
Um movimento que só foi possível por conta da união entre três fatores: a diminuição do poder de compra, os avanços tecnológicos e a popularização das comunidades on-line. Eles possibilitaram que pessoas com interesses mútuos se aproximassem em busca de alternativas para reduzir os gastos, garantindo a eficiência dos negócios por meio do intermédio de plataformas on-line.
A proposta da economia compartilhada sempre foi substituir a compra de um produto novo pela otimização de bens adquiridos anteriormente, mas, na prática, o modelo se restringia à partilha remunerada de poucos artigos. Hoje, o número de possibilidades é significativamente maior.
Para ordenar o conceito, Rachel Botsman descreve três cenários em que o consumo colaborativo tende a ser aproveitado com seu devido potencial:
- Redistribuição de bens: remanejamento de itens não utilizados para locais onde serão aproveitados.
- Estilo de vida colaborativo: reunião de membros da comunidade em prol do compartilhamento de bens, serviços e espaços.
- Acesso temporário a produtos e serviços: substituição da compra pelo aluguel de um produto ou espaço durante o período em que este será necessário.
Em conjunto, esses três universos colaboram com o desenvolvimento de um cenário oposto ao capitalismo clássico, descartando principalmente a ideia de que o lucro depende da compra em grande quantidade. Inclusive, é possível dizer que a posse por status está perdendo espaço e se tornando obsoleta.
Segundo Roberto Kanter, professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas, as pessoas estão menos preocupadas com o acúmulo de bens. O que importa é a experiência ou, em certas situações, a resolução de um problema por um preço reduzido.
Tanto que, em uma pesquisa realizada pela consultoria PwC, a maioria dos entrevistados concordou que o compartilhamento deixa a vida mais acessível e eficiente. Além disso, eles assentiram que esse modelo econômico ajuda a preservar o meio ambiente e construir comunidades mais fortes.
Principais Exemplos
Airbnb
O Airbnb se tornou uma das principais empresas no ramo de hospedagem e turismo ao propor uma conexão entre anfitriões e viajantes, oferecendo espaços de diversos tamanhos no mundo inteiro.
Uber
A Uber começou como uma empresa que oferecia motoristas de luxo por meio do aplicativo, mas logo entendeu que a fórmula do sucesso era expandir esse conceito para que milhões de pessoas pudessem usar seus próprios carros em diversos tipos de transporte.
DogHero
Uma startup brasileira com muito reconhecimento, a DogHero conecta donos de animais a profissionais que oferecem serviços como hospedagem, passeios, visitas em domicílio e consultas veterinárias.
Aloogie
O Aloogie expandiu ainda mais a ideia do compartilhamento de objetos, permitindo que os usuários disponibilizem qualquer coisa para aluguel e sejam remunerados por isso.
Rentbrella
A Rentbrella opera apenas em São Paulo, porém se destacou por alugar guarda-chuvas. Em vez de comprar um desses objetos e carregá-lo sempre que uma nuvem aparecer no céu, basta encontrar uma das centenas de estações automatizadas e se proteger pelo tempo necessário.
Coworking
A ideia por trás do coworking é transformar espaços não utilizados em salas compartilhadas por diversas empresas durante um período pré-determinado, reduzindo assim os custos com aluguel e energia enquanto amplia a troca orgânica de experiências.
Entre Vantagens e Desvantagens
Além da diminuição dos preços, uma das principais vantagens da economia compartilhada é o aumento do poder de escolha. As dinâmicas colaborativas ampliam as possibilidades de economizar, uma vez que você não precisa obrigatoriamente comprar um produto para usufruir dele.
É possível, por exemplo, locomover-se de carro sem comprar um veículo. Por meio de programas que disponibilizam caronas, você consegue reduzir seus custos enquanto o proprietário do automóvel economiza em gastos como combustível ou manutenção.
Uma relação colaborativa que também faz parte da disponibilização de quartos vagos. Nesse caso, um bem de alto custo possibilita que o proprietário complemente as rendas ao mesmo tempo em que o usuário evita gastos que acompanhariam tanto a estada em um hotel, quanto o aluguel de um apartamento a longo prazo.
Outro fator que merece nossa atenção é a melhoria contínua dos produtos e serviços oferecidos dentro desse modelo. Graças aos sistemas de avaliação presentes na grande maioria dos aplicativos voltados para o consumo colaborativo, os dois lados da transação precisam fazer o possível para que a experiência seja positiva.
A Uber serve como exemplo nesse cenário, porque motoristas e passageiros podem ser penalizados pelo mau comportamento. Os primeiros tendem a perder corridas para a concorrência, enquanto os segundos têm seus pedidos analisados com uma dose superior de desconfiança.
No entanto, os benefícios não estão restritos ao aspecto econômico ou à qualidade do serviço. A economia compartilhada é classificada como uma solução sustentável por se opor ao modelo tradicional em que a compra é seguida, em pouco tempo, pela venda ou pelo descarte dos bens adquiridos.
O compartilhamento abre a possibilidade de transformarmos uma compra inicial em uma série de outras transações, incluindo a reutilização circular de materiais. Isso influencia diretamente na emissão de gases poluentes, no descarte de resíduos sólidos e no uso de recursos finitos.
Mesmo assim, é impossível negar a existência de certas desvantagens nesse modelo. A mais marcante delas é a possível precarização das relações trabalhistas em aplicativos de transporte ou entrega.
Com as altas taxas de desemprego, o trabalho como autônomo em empresas desse tipo deixou de ser uma oportunidade complementar para se tornar uma necessidade. Um ponto de partida que fomenta muitas discussões sobre políticas de regularização e como elas afetariam o mercado.
De um lado, uma parcela da população defende que esse movimento aumentaria os gastos com impostos e eliminaria a suposta flexibilidade das jornadas de trabalho, prejudicando a empresa, os colaboradores e os consumidores. Do outro, os especialistas em direito trabalhista reafirmam a importância de conceder segurança econômica e física a esses grupos.
Será que essas mudanças realmente diminuem a força da economia compartilhada?
O Futuro da Economia Compartilhada
Por mais que existam dúvidas, os especialistas na área afirmam que estamos em “um caminho sem volta”. A tendência é que, gradualmente, muitas empresas tradicionais façam essa transição, apostando no consumo colaborativo e oferecendo pelo menos um serviço relacionado a esse modelo econômico.
De acordo com uma projeção realizada pela PwC em 2017, a economia compartilhada deve movimentar aproximadamente 335 bilhões de dólares em 2025. Um valor substancialmente maior do que os 15 bilhões de dólares movimentados em 2014.
Para completar, os indicativos sugerem que o compartilhamento de bens e serviços pode contribuir com cerca de 30% do PIB do setor de serviços no país.
Um crescimento incontestável que só poderia ser prejudicado pela ausência de confiança ou pelo surgimento de um sistema mais eficiente. No primeiro caso, o Brasil enfrenta algumas dificuldades ligadas à falta de segurança, mas evoluiu com a popularização de serviços que facilitam o acesso a hospedagens e transportes.
No segundo caso, a economia de recorrência surge como uma possível ameaça. Uma pesquisa divulgada pela Gartner em 2020 sugere que “80% das empresas de tecnologia vão operar por meio do modelo de assinaturas” para reduzir os processos e melhorar o relacionamento com os clientes.
Esse modelo – muito comum em serviços de streaming, aplicativos e clubes de presentes – realiza suas transações por meio de planos pagos com uma regularidade pré-determinada. As vantagens ficam por conta da redução da inadimplência e da possibilidade de prever as receitas.
Os consumidores, por outro lado, ganham benefícios como a adesão simples, a quantidade de opções para pagamento e a comodidade proporcionada pela eliminação da busca por soluções isoladas. O pagamento da mensalidade assegura que você receberá um bem ou serviço naquele período.
Em contrapartida, a economia de recorrência não é necessariamente sustentável. Descontando alguns casos específicos, como o do Literatour, esse modelo se baseia na compra de novos produtos que serão descartados quando a vontade for saciada.
Ainda é cedo para fazer afirmações definitivas, porém existe a possibilidade de ambos modelos coexistirem. Considerando o potencial de crescimento da economia compartilhada e a redução da posse por status, esse cenário parece ser o mais próximo da nossa realidade.
Por conta disso, é preciso estar constantemente atento às oportunidades oferecidas por mudanças que mexem com os sistemas tradicionais. Assim como o processo de digitalização que marcou a pandemia da covid-19, o consumo colaborativo pode transformar a sua empresa e garantir que ela se destaque em um futuro moldado pela sustentabilidade.
Quer crescer sem prejudicar o meio ambiente? Acesse o nosso Blog e conheça outras tendências e conceitos que dialogam com o desenvolvimento sustentável.