Entenda quais ações precisam ser realizadas para que o mundo consiga zerar as emissões de carbono e combater as mudanças climáticas.

Tempo de leitura: 8 minutos.

O planeta está constantemente ameaçado pelas mudanças climáticas. Tanto que, há algumas décadas, as consequências da emissão de gases poluentes se tornaram tema central de inúmeras discussões entre ambientalistas e governantes.

Alguns documentos importantes, como o Protocolo de Quioto e o Acordo de Paris, nasceram por meio dessas reuniões com o intuito de direcionar as ações que poderiam evitar um desfecho irreversível. O problema é que, na prática, essas propostas estão distantes do nosso maior objetivo: zerar as emissões de carbono.

O Acordo de Paris

Assinado em 2015 por 195 países, o Acordo de Paris é um dos documentos mais importantes quando o assunto é sustentabilidade, meio ambiente ou combate às mudanças climáticas.

E não tinha como ser diferente, já que o documento foi criado com o propósito de guiar governantes, ambientalistas e representantes sociais por tópicos como a integridade dos ecossistemas, direitos humanos, desenvolvimento sustentável e mercado de carbono. Assuntos que, se ainda não são, devem se tornar pilares da nossa sociedade.

O problema é que muitas das ações reunidas no Acordo estão estagnadas, enquanto aproximadamente 34 bilhões de toneladas de dióxido de carbono foram lançadas na atmosfera. Uma quantidade que o planeta não consegue absorver, gerando um acúmulo que tende a piorar as consequências do efeito estufa.

Para exemplificar a estagnação de algumas práticas, podemos citar o compartilhamento de metas nacionais. De acordo com uma matéria publicada pela revista Galileu, 75 países submeteram, até o final de 2020, os documentos que especificam as metas implantadas. Juntos, eles representam apenas 30% das emissões do planeta.

Zerar as Emissões de Carbono

Para piorar, diversos especialistas avaliaram que as iniciativas apresentadas até então são insuficientes. Segundo um artigo publicado na Nature, as metas globais devem ser mais ambiciosas para que o objetivo de restringir o aumento da temperatura seja atingido.

A redução média de emissões, por exemplo, precisaria ser 80% maior, chegando a 1,8% ao ano. Um valor que supera a meta descrita no Acordo de Paris e chama a atenção para a necessidade de atualizar os objetivos mundiais, buscando formas de zerar as emissões de carbono.

O Caminho para Zerar as Emissões de Carbono

Diante dessa realidade preocupante, a Agência Internacional de Energia publicou um estudo chamado Net Zero by 2050. A proposta é criar um manual interativo e completo com as ações que vão nos colocar na direção da descarbonização do planeta.

E como ressaltou a reportagem do Jornal Nacional sobre o assunto, quem está falando sobre isso não são os ambientalistas ou os governantes. É a instituição responsável por organizar diretrizes energéticas que eram, “até pouco tempo, guiadas pelos combustíveis fósseis”.

Ou seja, esse documento deixa claro que estamos vivendo uma realidade em que todos têm que fazer esforços em prol do meio ambiente. Nas palavras da própria agência, “o setor de energia detém a chave para combater as mudanças climáticas mundiais” por ser uma grande fonte de emissões globais.

O trabalho também relata que, apesar das ações globais estarem crescendo após o Acordo de Paris, os países ainda estão distantes do objetivo principal: “limitar o aumento das temperaturas globais a 1,5 °C e evitar os piores efeitos das mudanças climáticas”.

A busca por essa meta urgente foi o ponto de partida para o desenvolvimento de um roteiro composto por mais de 400 marcos que precisam ser alcançados nas datas previstas para podermos “descarbonizar a economia global em apenas três décadas”.

Pensando em divulgar os objetivos contidos nesse documento, nós vamos fazer uma linha do tempo que reúne as principais ações estipuladas pela Agência Internacional de Energia nesse caminho cujo objetivo é zerar as emissões de carbono.

Linha do Tempo até a Descarbonização

Zerar as Emissões de Carbono

2020

Antes de começar a falar sobre o futuro, vale a pena analisar as informações de 2020 para entender esse cenário em que 33,9 Gt. (gigatoneladas) de gás carbônico foram emitidas em um período de 12 meses.

O setor energético exerce grande influência nesse valor por conta dos combustíveis fósseis. Alguns países, incluindo o Brasil, possuem uma matriz majoritariamente limpa, porém mais de 60% da energia mundial utiliza carvão, gás e petróleo como matéria-prima principal.

Fontes limpas e renováveis, como as energias solar e eólica, ganham mais força a cada ano, mas ainda respondem por apenas 10% da geração total de eletricidade.

Além disso, vale expandir esses dados para outros setores que participam da emissão de gases poluentes. Na esfera das cidades, por exemplo, a porcentagem de carros elétricos está estagnada em 5%, e a implantação de projetos voltados para a criação de habitações sustentáveis permanece abaixo de 1%.

Nesse contexto, a captura e o armazenamento de carbono deixa de ser uma solução. Podem ajudar a reduzir as taxas, enquanto o mundo se prepara para transformar totalmente o sistema energético.

Isso faz com que a missão de zerar as emissões seja complexa e ambiciosa. Afinal, o sucesso do plano depende da implementação de todas as tecnologias de energia limpa disponíveis – das fontes renováveis até edifícios com eficiência energética – nos próximos dez anos.

Zerar as Emissões de Carbono

2021

Considerando que os combustíveis fósseis são responsáveis por quase 80% dos elementos poluidores encontrados no ar, a grande meta deste ano é o fim da aprovação tanto de novas usinas de carvão, quanto de novos campos de petróleo e gás.

Segundo a Agência Internacional de Energia, esse é o primeiro passo para a transformação do setor energético, já que as mudanças passam pela substituição total dos combustíveis fósseis por fontes sustentáveis.

Para completar, este é o momento de conquistar o apoio de uma peça essencial: o ser humano. Por mais que uma pesquisa realizada pela Universidade de Cambridge tenha revelado que 90% das pessoas concordam com ações que ajudam a combater as mudanças climáticas, o mundo necessita mais de atitudes firmes do que de uma simples aprovação.

Se quisermos zerar as emissões de carbono, os cidadãos do mundo precisarão mudar alguns comportamentos que já estão enraizados. Estamos falando de ações como diminuir a temperatura da água no banho, substituir o carro por bicicletas ou transporte público, priorizar a compra ou o aluguel de automóveis elétricos e abrir mão de, no mínimo, um voo longo durante o ano.

Estima-se que a união dessas atitudes – em sua maioria, simples – pode reduzir cerca de 4% das emissões cumulativas.

Zerar as Emissões de Carbono

2025

Para que a meta proposta pelo documento seja alcançada, a Agência Internacional de Energia destaca que “o investimento anual em energia limpa em todo o mundo precisará mais do que triplicar até 2030”, alcançando a marca de 4 trilhões de dólares.

A maior parte desse capital deve ser direcionado ao aumento da capacidade média das usinas nucleares, à garantia de que os novos edifícios de países desenvolvidos serão construídos de forma sustentável e à reforma de usinas termelétricas com o objetivo de inseri-las na produção de hidrogênio verde.

Além disso, espera-se que as vendas de caldeiras movidas por combustíveis fósseis já estejam interrompidas, e que as energias solar e eólica sejam responsáveis por 20% da geração total de eletricidade no mundo.

De acordo o estudo, essas mudanças influenciarão diretamente na criação de novos empregos, aumentando o crescimento econômico global, e na ampliação do acesso universal à eletricidade.

  • Emissão de CO2 estimada para 2025: 30,2 Gt.
  • Redução de 3,7 Gt.

2030

A virada da década é primordial para os planos de descarbonização por conta do investimento em inovação que se concentrará nesse período. O documento estima que as reduções contabilizadas até 2030 estarão conectadas com tecnologias atuais, todavia as diminuições do futuro dependeriam de tecnologias que estão em fase de demonstração.

Em outras palavras: esse é o momento de colocar essas novas opções no mercado. O destaque fica para a construção de eletrolisadores capazes de gerar 850 GW de energia a partir da separação do hidrogênio presente nas moléculas de água.

Outras metas importantes dialogam sobre:

  1. A demanda global de carvão estar 50% menor do que em 2020;
  2. 60% dos carros vendidos serem elétricos;
  3. A eliminação progressiva do carvão em países desenvolvidos;
  4. A eletricidade e o hidrogênio responderem por 65% do consumo total de energia nas ferrovias;
  5. 47% das linhas ferroviárias estarem eletrificadas;
  6. Todos os novos edifícios estarem preparados para emitir zero carbono;
  7. Os biocombustíveis serem responsáveis por 16% do consumo total da aviação.

Para completar os esforços desse período, a Agência Internacional de Energia reforça a importância de “fornecer eletricidade a cerca de 785 milhões de pessoas que não têm acesso e soluções de cozinha limpa para 2,6 bilhões de pessoas que não têm essa opção”. Essas medidas ajudam a melhorar a qualidade do ar interno e, por isso, precisam caminhar lado a lado com as políticas de redução mais amplas.

  • Emissão de CO2  estimada para 2030: 21,1 Gt.
  • Redução de 9,1 Gt.

2035

A próxima etapa do projeto está focada em reduzir significativamente o uso de carvão, gás e petróleo. Logo, entre as providências mais relevantes estão: a suspensão das vendas de novos carros com motor de combustão interna; a garantia de que as novas adições realizadas na indústria pesada serão sustentáveis; o início da eliminação progressiva de todas as usinas de carvão e petróleo.

Conjuntamente, espera-se que a produção de energia em países desenvolvidos seja essencialmente limpa, que 50% dos caminhões e outros veículos pesados sejam elétricos e que o uso global de combustíveis fósseis esteja 50% menor em relação aos dados de 2020.

Uma meta plausível, considerando que a maior parte dos automóveis em circulação serão movidos por eletricidade ou hidrogênio.  

  • Emissão de CO2  estimada para 2035: 12,8 Gt.
  • Redução de 8,3 Gt.

2040

A partir desse ponto, a eletricidade (produzida de forma limpa e renovável) se tornará “o núcleo do sistema de energia”, desempenhando um papel primordial em setores como transporte, habitação e indústria. Para isso, é necessário que ela consiga suprir cerca de “metade do consumo total de energia”.

Também precisaremos diversificar as matrizes e aumentar a flexibilidade do complexo elétrico, usando combustíveis à base de hidrogênio e baterias de estado sólido para garantir que o fornecimento seja confiável.

Além disso, com a demanda por petróleo estando 50% menor do que em 2020, será possível finalizar a eliminação das usinas que utilizem carvão ou o próprio petróleo como matéria-prima. Uma mudança permeada pelo aumento da capacidade de produção dos eletrolisadores (de 850 GW para 2.400 GW) e das usinas nucleares.

Isso tudo sem contar com duas expectativas que merecem destaque. O documento prevê que, no final desta década, 50% dos edifícios existentes sejam reformados para emitir zero carbono e que 50% dos combustíveis usados na aviação sejam de baixa emissão.

  • Emissão de COestimada para 2040: 6,3 Gt.
  • Redução de 6,5 Gt.

2045

Com a difusão de novas tecnologias, o documento prevê que, em 2045, “a maioria absoluta dos carros funcionará com eletricidade ou células de combustível, os aviões dependerão principalmente de biocombustíveis avançados ou combustíveis sintéticos, e centenas de plantas industriais usarão a captura de carbono ou hidrogênio em todo o mundo”.

A agência também estipula que, nesse momento, 50% da demanda de aquecimento domiciliar deverá ser atendida por bombas de calor, as usinas nucleares precisarão ultrapassar a geração de 5.000 TWh (Terawatt-hora) por ano e que a demanda de gás natural tem que estar 50% mais baixa do que em 2020.

  • Emissão de COestimada para 2045: 2,5 Gt.
  • Redução de 3,8 Gt.

2050

Segundo o documento, caso todas as metas sejam atendidas, “em 2050, o setor de energia será amplamente baseado em energias renováveis, sendo a energia solar a maior fonte de abastecimento”. No entanto, a existência desse futuro limpo depende da colaboração constante entre políticos, empresas, investidores e cidadãos.

A cooperação internacional também é decisiva no caminho para “garantir que as economias em desenvolvimento tenham o financiamento e as tecnologias de que precisam para chegar à descarbonização”. E não só isso, visto que o apoio entre países ajuda a construir esse cenário ideal em que quase 10 bilhões de pessoas têm acesso à eletricidade e à cozinha limpa.

Para completar, a Agência Internacional de Energia espera que no final da jornada mais de 85% dos edifícios estejam prontos para funcionar sem emitir carbono. Um valor alcançado graças ao uso de lâmpadas de LED em 100% dos projetos de iluminação, à não participação do carvão e do gás natural na geração de eletricidade, à reciclagem de diversos materiais que prejudicam o meio ambiente e ao investimento industrial em soluções inovadoras e com baixa emissão de carbono.

Outra estimativa que merece destaque é a participação da eletricidade e do hidrogênio em 96% do consumo total de energia no sistema ferroviário. Ao lado dos carros, caminhões e aviões, o uso de trens movidos de forma sustentável colabora bastante com o planeta Terra.

  • Emissão de CO estimada para 2050: 0 Gt.
  • Redução de 2,5 Gt.

Conclusão

É curioso notar que o índice de redução atinge seu pico em 2030 e vai ficando gradualmente menor com o passar das etapas. Isso acontece porque os primeiros dez anos serão usados para preparar o terreno e fazer mudanças essenciais, enquanto as décadas seguintes implementam novas tecnologias com o intuito de garantir a continuidade dessa redução.

Simultaneamente, os próximos trinta anos terão a missão de enraizar novas práticas na nossa sociedade. Nós só poderemos dizer que vivemos em um planeta descarbonizado quando essa meta for conquistada, porque a adoção dessas soluções sustentáveis é o pilar que possibilita a manutenção das baixas emissões.

O mundo precisa desse período para que as fontes renováveis sejam responsáveis por cerca de 90% da geração total de eletricidade, eliminando modelos poluentes e fortalecendo a expansão das usinas solares e eólicas. Estima-se que, em 2050, elas produzirão 70% da nossa energia de maneira limpa e eficiente.

Conforme a geração de energia alcança tais níveis, “a eletrificação de áreas anteriormente dominadas pelos combustíveis fósseis surge como uma ferramenta crucial para reduzir as emissões em diversos setores da economia”. Para isso, dependemos da comercialização em larga escala de automóveis elétricos, do uso de bombas de calor em edifícios e do desenvolvimento de fornos elétricos capazes de participar da produção do aço.

Nos setores em que a eletricidade não for uma solução plausível, os combustíveis à base de hidrogênio preencherão as lacunas. Considerando os altos custos envolvidos na produção desses elementos, seu crescimento tende a ser vagaroso e dependente do surgimento de tecnologias inéditas até então.

Entretanto, como dissemos anteriormente, para que tudo isso seja colocado em prática no seu devido tempo, os governos devem atualizar e acelerar seus planejamentos. Segundo a Agência Internacional de Energia, as metas nacionais analisadas durante a produção do Net Zero by 2050 conseguiriam reduzir apenas 35% das emissões até 2050.

É verdade que a maioria das metas estipuladas pela instituição podem ser classificadas como desafiadoras e ambiciosas, mas são possíveis. Basta que os governos realizem transições transparentes, bem planejadas e inclusivas, garantindo que os mais pobres também consigam suprir as demandas que serão atualizadas com a ampliação do acesso à energia.

Zerar as emissões de carbono não é simples, porém se trata de uma missão necessária. O planeta Terra precisa que essas metas sejam atingidas para que as próximas gerações vivam em uma sociedade limpa, saudável e sustentável.

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