Saiba como funciona a geração de energia por meio da biomassa, suas vantagens e os questionamentos que cercam seu crescimento.

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A preocupação com a emissão de gases poluentes tem ganhado contornos mais urgentes a cada ano que passa. Isso fez com que o tema extrapolasse as fronteiras dos congressos ambientalistas, engajando diversos setores produtivos da nossa sociedade.

Para exemplificar, a Agência Internacional de Energia (AIE) publicou um relatório que reúne centenas de medidas voltadas para a descarbonização do planeta. Esse documento aborda, acima de tudo, a necessidade de investir, imediatamente, em energias renováveis.

O Brasil possui certa vantagem nesse aspecto por ser detentor de uma matriz energética majoritariamente limpa. No entanto, existe espaço para ampliar a diversificação e substituir as termelétricas por usinas solares, eólicas e outras soluções sustentáveis.

Assim, a geração de energia a partir da biomassa surge como uma opção em relação à queima de combustíveis fósseis. Tanto que o último estudo divulgado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) colocou tal fonte em terceiro lugar, respondendo por 8,9% da produção elétrica brasileira.  

Uma informação que estabelece a biomassa como uma realidade no país, mas não responde a um questionamento importante: ela se trata de uma opção realmente limpa?

O Que é a Biomassa?

Madeira

Quando falamos em biomassa, tratamos de toda matéria orgânica de origem animal ou vegetal utilizada na geração de energia. Os exemplos mais conhecidos no contexto brasileiro são o carvão, a lenha, o bagaço de cana-de-açúcar, o eucalipto e a beterraba.

Como a maioria dessas matérias-primas tende a ser cultivada novamente, usando até mesmo os resíduos da própria usina como adubo, ela pode ser classificada como uma solução de caráter renovável.

Por sua vez, a conversão da biomassa em energia pode ser realizada por uma série de processos diferentes. Inclusive, algumas das opções citadas acima precisam ser preparadas antes de serem transformadas no produto final.

Nesse caso, estamos falando principalmente da secagem, da fermentação e gaseificação desses materiais. Processos térmicos, físicos e biológicos que influenciam na geração de energia ou combustíveis.

Ao chegar na última etapa, a conversão é dividida em dois procedimentos principais: a pirólise e a combustão. A co-combustão também é tratada por muitos especialistas como uma opção, todavia ela representa apenas a substituição de parte do carvão mineral usado em termelétricas por biomassa.

Pirólise

Neste primeiro método, a biomassa é decomposta por meio da exposição a altas temperaturas em um espaço sem oxigênio. O resultado é uma mistura de subprodutos (biogás, óleos vegetais e carvão vegetal), que são direcionados para usos específicos, incluindo a alimentação de usinas termelétricas.

Combustão

Na combustão, como o próprio nome indica, ocorre um processo padrão de queima da biomassa. O propósito principal é produzir vapor em alta pressão e direcioná-lo para a movimentação de turbinas responsáveis por gerar eletricidade.

Fogueira

Os dois processos são marcados pela dispersão e pela baixa eficiência, porém influenciam bastante a matriz energética de locais com pouco desenvolvimento. Seja por meio da construção de usinas especializadas para suprir a demanda de áreas sem rede de distribuição, seja no uso caseiro de matérias-primas que se enquadram no conceito.

Residências que utilizam, por exemplo, fogões a lenha não só fazem parte dessa categoria, como influenciam em estudos sobre o assunto. Um artigo publicado pelo Jornal Brasileiro de Pneumologia revelou, sem fazer distinções, que 90% das casas localizadas em regiões rurais de países pobres dependem da energia gerada pela queima de biomassa.

As Possibilidades da Biomassa

Apesar da sua capacidade energética restrita, a biomassa possui algumas aplicações vantajosas. A maioria absoluta delas passa pelo baixo custo de produção em países voltados para o agronegócio e pela possibilidade de se reutilizar resíduos em diversas etapas do processo.

Um bom exemplo disso pode ser encontrado no setor responsável pela produção de açúcar e álcool. Considerando que a cana-de-açúcar é matéria-prima de ambos produtos, o aproveitamento do bagaço residual na geração de energia tende a ser uma opção sustentável e favorável economicamente.

Essa utilização se daria por meio dos sistemas de cogeração, conciliando a contratação de energia elétrica convencional com a queima interna dos resíduos vegetais. É um caminho que possibilita tanto o aumento da eficiência energética quanto o abastecimento de plantas industriais em locais isolados.

Além disso, o processo de combustão é marcado pela perda de cerca de 60% da energia total em forma de calor. Dependendo do sistema instalado, é possível transformar o calor em vapor, reaproveitá-lo no aquecimento de caldeiras e ambientes internos, e economizar com o combustível que precisaria ser deslocado para essa função.

Ao mesmo tempo, essa reutilização permite que os resíduos orgânicos tenham um destino mais sustentável do que o mero descarte. Algo que, no contexto do Brasil, causaria um aumento significativo na produção de lixo.  

Os Cuidados Necessários

Biomassa

No entanto, ser renovável e benéfica em diversos aspectos não impede que a geração de energia a partir da biomassa tenha suas desvantagens. Afinal de contas, estamos falando sobre um processo baseado na combustão.

Segundo o artigo “Queima de biomassa e efeitos sobre a saúde”, produzido pelo Jornal Brasileiro de Pneumologia em 2004, as usinas responsáveis pela queima da biomassa estão entre as maiores emissoras de “gases tóxicos, material particulado e gases de efeito estufa”.

Dependendo da composição do material queimado e a periodicidade, essa emissão influencia a composição química da atmosfera, os níveis de acidez da chuva, a quantidade de radiação refletida para o espaço e a saúde do corpo humano.

O mesmo estudo associa “a exposição por longos períodos à fumaça produzida pela queima de biomassa em ambientes fechados” a uma série de doenças com efeitos tão devastadores quanto o tabagismo. Entre os destaques do documento, estão “infecções respiratórias agudas em crianças, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), pneumoconiose, catarata e cegueira, tuberculose pulmonar e efeitos adversos na gestação”.

Isso sem contar com as consequências negativas que se estendem para outros âmbitos. É o caso do desmatamento que precede as plantações de cana e outros vegetais usados na produção energética e do transporte terrestre de biomassas sólidas.

Devido às dificuldades de armazenamento, essa fase depende de caminhões que prejudicam a mobilidade nas rodovias e emitem uma quantidade ainda maior de gases poluentes.


Biomassa

Esse confronto entre vantagens e desvantagens da biomassa não apresenta resultados conclusivos, porém gera reflexões importantes sobre os impactos causados por algumas energias sustentáveis. O mesmo deve ser feito, por exemplo, em relação às hidrelétricas e às adversidades geradas pela construção da usina.

No caso específico da biomassa, estamos falando de uma solução conveniente para o Brasil. A quantidade de áreas disponíveis para a agricultura e empresas que se beneficiariam com a cogeração favorecem bastante o crescimento dessa fonte de energia.

Mas, em contrapartida, a produção em nível industrial de biocombustíveis pode afetar a saúde das comunidades no entorno, aumentar a pressão pelo desmatamento de áreas reservadas à conservação e promover uma concorrência acirrada com o setor alimentício.

No fim das contas, seria melhor produzir alimento ou matéria-prima para usinas de biomassa? Em alguns cenários, a resposta para essa pergunta colocaria em risco nossa qualidade de vida e segurança alimentar.

Em um cenário como esse, o fator sustentabilidade tende a perder sua força. Até mesmo o incentivo à reutilização de resíduos como parte de uma economia circular acaba sendo colocado em cheque na esperança de entender se o crescimento da biomassa como fonte de energia é positivo ou negativo.

Em outras palavras: por mais que a diversificação da matriz energética brasileira seja uma demanda imediata, é essencial que os benefícios e impactos de cada opção renovável passe por uma análise ponderada conforme a aplicação e o volume de uso. Só assim poderemos garantir que as próximas gerações vivam com saúde em um futuro descarbonizado.


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