Conheça as características dos green bonds e a relevância dessa ferramenta no financiamento do desenvolvimento sustentável.

Tempo de leitura: 7 minutos.

As discussões cada vez mais urgentes sobre qualidade de vida e proteção ambiental incentivaram a criação dos pilares ESG e, com o tempo, evidenciaram a sua importância na sociedade.

Em resposta a essa demonstração, as empresas passaram a adotar modelos de gestão sustentáveis, enquanto os investidores direcionaram suas preferências aos negócios que se dedicam à implementação de princípios sociais ou ambientais.

Esse movimento incentivou a elaboração e o financiamento de “projetos verdes”, promovendo assim a criação de novos instrumentos financeiros. Entre eles, os green bonds surgem como um exemplo de ferramenta que une, de forma eficiente, a preocupação ambiental com o retorno econômico.  

O que são Green Bonds?

Assinado em 1997, o Protocolo de Quioto viabilizou a criação de inúmeras ferramentas que ajudassem na redução da emissão de gases poluentes sem afetar o desenvolvimento empresarial. Mais de uma década depois, em 2008, o Banco Mundial demonstrou que seria possível relacionar sustentabilidade e rentabilidade por meio da emissão do primeiro título de dívida destinado ao financiamento de projetos com impacto ambiental positivo.

Os Green Bonds – ou Títulos Verdes – funcionam basicamente como qualquer outro título de dívida. A diferença é que os recursos captados a partir de suas vendas só podem ter uma finalidade: o subsídio de investimentos sustentáveis.

Com isso, os títulos conseguem aderir a várias possibilidades de captação presentes no mercado. Basta garantir que o dinheiro seja investido em fontes de energia renovável, edifícios inteligentes, controle da poluição, preservação de ecossistemas, produção de veículos híbridos ou qualquer projeto relacionado ao meio ambiente.

Energia Solar Fotovoltaica

Segundo um artigo publicado pela XP Investimentos, as opções que geralmente se enquadram nesses parâmetros são:

Debêntures: títulos de dívida emitidos por empresas privadas que funcionam como um investimento de renda fixa, garantindo o rendimento final e a taxa de resgate;

Debêntures Incentivadas de Infraestrutura: isento de impostos para pessoas físicas, esses títulos são emitidos com a intenção de desenvolver projetos relacionados à infraestrutura;

Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI): emitido por securitizadoras, esse título tem o objetivo de captar recursos para o setor imobiliário;

Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA): muito parecido com o CRI, esse tipo de título é emitido por empresas intermediadoras com o intuito de financiar projetos no setor do agronegócio;

Cotas de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC): gerenciado por uma instituição financeira, esse tipo de investimento se trata de uma carteira composta por diversos títulos de crédito emitidos por empresas diferentes;

Mas Afinal, o que são Títulos de Dívidas?

Por mais que o conceito de green bonds seja teoricamente simples, quem não conhece alguns termos que fazem parte do mercado financeiro tende a ficar confuso. Nesse caso, o primeiro passo é explicar do que se tratam os títulos de dívida.

Eles são um tipo de ativo financeiro em que a empresa ou governo responsável pela emissão assume uma dívida com os investidores. Funciona como um contrato de empréstimo, cujo objetivo é arrecadar fundos que ajudam a financiar novos projetos.

Ou seja, os investidores fornecem o capital necessário para o emissor iniciar um projeto, esperando receber esse dinheiro de volta, com juros, quando o mesmo estiver concluído.

Mercado de Ações

Qual a Diferença entre Ações e Títulos de Dívida?

Qualquer investimento, seja em ações, seja em títulos de dívida, visa o retorno financeiro. Portanto, o que diferencia essas opções não é a margem de lucro e sim o status que o investidor possui diante da empresa.

Quem adquire ações detém uma parte da organização. Logo, seus rendimentos dependem diretamente da valorização ou desvalorização da companhia em um certo período.

Por outro lado, quem escolhe investir em títulos de dívida assume uma função próxima dos bancos, tornando-se um credor da empresa emissora. Isso faz com que seus ganhos estejam ligados à conclusão de um projeto específico e não à valorização como um todo.

Outra diferença fundamental está relacionada ao fim dessa empresa. Caso isso aconteça, os detentores de títulos de dívida têm preferência em relação aos acionistas. Esses geralmente são os últimos a receber uma parcela dos seus investimentos.

Ainda assim, é importante prestar atenção nos riscos envolvidos antes de investir em títulos de dívida. Desvalorizações causadas por problemas de gestão, por exemplo, costumam afetar a conclusão dos projetos financiados, arriscando o retorno do investimento.

O Caminho do Projeto até o Investimento

Pré-emissão

Antes de emitir um título verde, as empresas ou governos precisam elaborar um projeto que contribua com a preservação do meio ambiente ou com a redução da emissão de carbono na atmosfera.

Mantendo os elementos técnicos que compõem a maior parte dos planejamentos, esse documento deve conter uma análise do mercado, todos os detalhes do projeto e os riscos envolvidos.

Green Bonds

Certificação

Após a fase de desenvolvimento, o projeto pode ser analisado por uma avaliadora externa. O caminho mais comum é contratar uma consultoria especializada na área ambiental para atestar os parâmetros sustentáveis da proposta.

Além disso, é necessário que o projeto de captação seja submetido à FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos) e ao CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável). Essas instituições irão avaliar a proposta e confirmar a viabilidade da iniciativa em questão.

Para assegurar o sucesso da tentativa, é possível seguir a ISO 14030. Apesar de estar em fase de desenvolvimento, a norma foi criada com o objetivo de direcionar a emissão de green bonds, aumentando a credibilidade do processo por meio da classificação dos projetos em três categorias: verde por natureza; verde com qualificações e casos estudados separadamente.

Com o intuito de exemplificar, a geração de eletricidade a partir de fontes renováveis, como solar ou eólica, é uma das poucas situações definidas como verde por natureza. Hidrelétricas, biocombustíveis e transporte híbrido se enquadram na segunda categoria, enquanto o uso de combustíveis fósseis e energia nuclear dependem de uma análise aprofundada para não serem excluídos.

Emissão

Com a certificação garantida, as empresas podem procurar por um banco ou agência financeira e emitir os títulos de dívida. No Brasil, a quantidade de empresas qualificadas para essa atividade ainda é pequena, porém o crescimento do mercado abre espaço para iniciativas, como o Sustainability Bond Framework, que facilitem as emissões.

Investimento

Depois da emissão, os títulos verdes são oferecidos para possíveis investidores. Seguindo o que acontece com os títulos de dívida normais, tal negociação é realizada por meio de bancos, corretoras ou instituições financeiras.

No primeiro contato com o projeto, é preciso conferir os propósitos sustentáveis, a rentabilidade esperada e o prazo para a conclusão. Esses são os fatores que interferem diretamente no reembolso do capital.

Além disso, é essencial acompanhar a implementação de valores ESG por meio de ferramentas como o Índice de Sustentabilidade Empresarial. A elegibilidade das empresas em listas desse tipo ajuda tanto na escolha dos green bonds, quanto na decisão de ampliar as categorias de investimento sem abandonar a preferência por empresas realmente sustentáveis.

Green Bonds

Pós-emissão

E “acompanhar” continua sendo uma palavra-chave após as vendas dos títulos, afinal de contas o projeto é monitorado durante a execução. O emissor tem a responsabilidade de divulgar relatórios que comprovem, com a devida transparência, a destinação dos recursos e o cumprimento dos parâmetros ambientais.

As Vantagens dos Green Bonds

A emissão de green bonds possui um custo elevado por conta dos fatores burocráticos, como a consultoria externa. No entanto, as vantagens oferecidas pelos investimentos sustentáveis favorecem o crescimento do mercado.

Emissor

As empresas que decidem captar recursos para um projeto sustentável aumentam seu valor de mercado graças ao engajamento socioambiental, melhoram sua imagem perante uma sociedade cada vez mais preocupada com os valores ESG e ampliam sua base de investidores por meio da diversificação de iniciativas.

Para completar, o governo federal publicou, em junho de 2020, o decreto 10.387/20. A norma estende os programas de incentivos fiscais aos projetos de infraestrutura com impactos socioambientais positivos, reduzindo a incidência de impostos e colaborando com o fortalecimento dos títulos verdes.

Investidor

Assim como acontece no caso do emissor, a principal vantagem dos green bonds está atrelada aos seus propósitos sustentáveis. Com o crescimento da importância desses temas em diversos setores, os investidores aumentam suas chances de obter um bom retorno financeiro.

Ao mesmo tempo, os projetos custeados por meio desses instrumentos financeiros devem ser orientados por práticas sustentáveis e valores ESG. São investimentos pautados pela proteção ambiental, pela edificação de comunidades igualitárias e pelo relacionamento transparente com todas as partes envolvidas.

Em outras palavras, eles nos oferecem a possibilidade de apoiar iniciativas seguras que geram lucro, enquanto colaboram com a construção de um futuro melhor para as próximas gerações.


Para se aprofundar no assunto, confira o Guia para a Emissão de Títulos Verdes produzido pela FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos) e pelo CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável).


Green Bonds Sustentabilidade

De acordo com os dados da Climate Bonds Initiative (CBI), uma organização internacional sem fins lucrativos especializada em títulos verdes, esse mercado movimentou 1,2 bilhão de dólares no Brasil em 2019.

O fato de esse número ser seis vezes maior do que as movimentações catalogadas no ano anterior demonstra que, apesar de ser relativamente novo, o nosso país tem um alto potencial de crescimento quando o assunto é emissão de green bonds.  

Tanto que Gustavo Pimentel, diretor de uma organização brasileira que trabalha com a união entre finanças e sustentabilidade, aposta em um crescimento significativo do mercado interno nos próximos anos. Baseando-se nos 18 bilhões de dólares que estão estocados atualmente em títulos verdes, ele sugeriu que o Brasil tem potencial para alcançar a marca dos 100 bilhões até 2025.

Em nível mundial, os especialistas projetam que o estoque de 600 bilhões de dólares deve crescer de maneira contínua, ultrapassando a casa dos trilhões em pouco tempo. Uma pequena parte de um oceano cujo valor total se aproxima dos 100 trilhões de dólares.

Responsável por 41% das emissões realizadas na América Latina, o Brasil terá um papel crucial nessa campanha que visa captar recursos suficientes para cumprir as metas do Acordo de Paris. Entretanto, segundo Thatyanne Gasparotto, diretora da CBI no continente, o avanço do nosso mercado depende da diversificação de setores interessados na emissão de títulos sustentáveis.

Em entrevista ao site EPBR, Thatyanne revelou que existe “uma escassez enorme de projetos”. Ainda que as operações relacionadas aos setores de energia solar e eólica tenham crescido exponencialmente, a organização afirma que o interesse dos segmentos de bioenergia e transporte híbrido é fundamental para a consolidação dos títulos verdes como uma alternativa de financiamento que preza pela união entre rentabilidade e propósito


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