Conheça as ideias que cercam as finanças comportamentais, sua história e os impactos na economia.

Tempo de leitura: 5 minutos. 

Imagine que você está prestes a tomar uma decisão muito importante para o setor financeiro da sua empresa. O que é mais importante nesse momento: o emocional ou o racional?

Economistas clássicos diriam que o correto é acionar apenas a razão com o intuito de reduzir os riscos e ampliar o retorno. No entanto, existem correntes de pensamento alternativas. A principal delas trabalha com a possibilidade de o nosso cérebro ser movido por emoções, sugerindo assim que comportamentos financeiros não são dominados somente pela racionalidade.

Isso significa, em outras palavras, que a razão nos orienta e faz o possível para controlar as emoções, porém falha na maioria das vezes. Especialmente quando se trata de decisões financeiras.

A necessidade latente de compreender tudo que cerca essa complexa relação entre discernimento racional, sentimentos e dinheiro originou o conceito das Finanças Comportamentais. Uma linha de raciocínio que tem ganhado cada vez mais destaque tanto no meio acadêmico, quanto no mercado.

Do que Tratam as Finanças Comportamentais?

Finanças Comportamentais

As Finanças Comportamentais fazem parte de um campo de estudo que reúne Economia e Psicologia com o objetivo de estudar as influências emocionais e sociais no comportamento econômico e nas tomadas de decisão.

Alguns estudiosos as tratam como uma abordagem alternativa aos argumentos tradicionais que definem o sucesso financeiro por meio de uma equação simples, em que só precisamos gastar menos do que ganhamos. Outros sugerem que esse conceito deve ser um ponto intermediário entre as premissas clássicas e uma nova economia fundamentada pela Psicologia.

O fato é que essa perspectiva lida com variáveis econômicas que extrapolam a matemática, transformando o processo de decisão em seu objeto de estudo central. Em parâmetros gerais, a ideia é entender os motivos que cercam nossas escolhas financeiras.

Para isso, o primeiro passo é aceitar que as decisões não são tomadas por agentes econômicos sedentos por lucro. Os responsáveis são seres humanos e, como tais, eles são influenciados por histórias de vida, personalidades, crenças, fatores psicológicos e um sistema cognitivo que não consegue processar todas as informações disponíveis.

Nossa intenção é refletir acerca de todas as possibilidades e decidir de maneira racional, mas a realidade tende a ser diferente por conta de atalhos conhecidos como heurísticos. Eles permitem que a mente apele a informações reconhecidas para fazer escolhas referentes ao que não sabemos, podendo não considerar a existência de fatores inesperados.

Para exemplificar, é possível analisar alguém que visita o supermercado com fome. O desejo de suprir tal necessidade sempre fez parte das nossas vidas e, por conta disso, nos conduz a comprar mais do que o planejado, deixando de lado elementos decisivos, como a própria disponibilidade financeira. 

Isso leva nossa mente a priorizar as vontades fisiológicas, simplificando escolhas que seriam questionadas em outras visitas ao supermercado. O problema é que, ao manter o aspecto econômico em segundo plano, o resultado tende a ser uma decisão financeira equivocada.

A História do Conceito

Finanças Comportamentais

A relação entre Economia e Psicologia foi explorada pela primeira vez em 1902 nos textos escritos pelo francês Gabriel Tarde. No entanto, os estudos nesse campo só foram retomados na década de 40, quando o cientista Herbert Simon sugeriu que as tomadas de decisão em momentos de incerteza eram influenciadas por uma racionalidade limitada. Ou seja, as escolhas do ser humano não dependiam da racionalidade em todas as situações.

Segundo ele, os gestores se contentam em atender aos requisitos mínimos e, por isso, permitem que as decisões sejam baseadas em simplificações da realidade. Qualquer resolução serve, desde que os problemas sejam resolvidos.

Por mais que essa conceituação esteja bem próxima do que define as finanças comportamentais atualmente, os estudos decisivos ganharam forma nos anos 70. Um período marcado pelo amadurecimento do behaviorismo, uma área da Psicologia que estuda o comportamento humano.

Encontrando um suporte essencial nesse campo, três pesquisadores se aprofundaram na relação entre Economia e Psicologia por não acreditarem que explicações racionais justificavam as atitudes dos homens na área financeira. Foram eles: Richard Thaler, Daniel Kahneman e Amós Tversky.

O primeiro criou uma divisão entre os agentes racionais e os seres humanos. Enquanto os primeiros se assemelhavam a personagens que visavam unicamente o lucro, a segunda classe gastava mais do que recebia, acreditava em promoções e caia em golpes assim como qualquer pessoa normal.

Foto: Unsplash

Já Kahneman e Tversky foram responsáveis por comprovar que nossa aversão à perda é superior à preocupação com os riscos. De acordo com a Teoria da Perspectiva, na maioria absoluta dos casos, o ser humano aceita assumir riscos na esperança de evitar uma perda maior.

Entre tantos exemplos citados pelos autores, o destaque fica com um cenário em que homens e mulheres precisavam escolher entre ter 100% de chances de perder 3 mil reais ou 80% de chances de perder 4 mil reais.

Surpreendentemente, a maior parte dos entrevistados escolheu a segunda opção, arriscando perder mais apenas para evitar a perda concretizada. Isso diz muito sobre o nosso instinto de sobrevivência e a tentativa de evitar os riscos até que a perda seja dada como certa. Neste momento, enfrentamos o medo e apostamos tudo para não precisar lidar com os sentimentos deixados pela ausência.

Confira aqui uma entrevista que Daniel Kahneman concedeu para a Revista da ESPM em 2015.

Como as Finanças Comportamentais Influenciam a Economia?

O impacto desse conceito está diretamente associado à influência que as atitudes humanas exercem sobre as decisões financeiras. No entanto, a missão de chegar a conclusões práticas é dificultada pela existência de centenas de atalhos e comportamentos além da citada aversão à perda.

Estamos falando de inúmeras possibilidades conectadas ao processamento rápido de informações, a códigos morais, expectativas de vida, padrões de julgamento e influência social.

Finanças Comportamentais

É comum, por exemplo, que as pessoas façam escolhas com base na imagem social que construíram durante os anos. Dentro disso, a motivação por trás de uma decisão pode estar ligada à tentativa de crescer economicamente, evitar a depreciação patrimonial ou se manter fiel a uma opinião que defendeu em ambientes sociais.

São várias as situações em que o ser humano fica preso em investimentos questionáveis em nome dessa coerência ou do excesso de confiança. Quando acreditamos de maneira descomedida em nossos objetivos, a tendência é tomar decisões financeiras equivocadas com o propósito de alcançá-los.

Daniel Kahneman fala sobre isso em uma frase que resume, de forma ampla, a influência comportamental como um todo. Nas palavras dele: “Quando tomamos uma decisão, enxergamos apenas o que queremos, ignoramos possibilidades e minimizamos os riscos que enfraquecem nossas esperanças. O pior é que muitas vezes somos confiantes mesmo quando estamos errados”.

Outro comportamento estudado com frequência pelas finanças comportamentais é o efeito manada. Diversos autores, incluindo Freud, já fizeram ensaios sobre como o ser humano busca uma tribo majoritária e acompanha as ações desse grupo com certa irracionalidade.  

Esse condicionamento pode ser visto em investimentos que são realizados por um único motivo: outras pessoas do grupo terem feito o mesmo anteriormente. Inclusive, vale ressaltar que pirâmides e golpes financeiros se aproveitam disso com frequência.

Os seres humanos focam em informações que validem ideias preconcebidas, porque admitir um erro é tão doloroso quanto uma perda. E, inconscientemente, isso faz com que informações importantes sejam menosprezadas no ato da decisão.

De acordo com nossas emoções, é preferível pesquisar dados que confirmem uma teoria errônea do lidar com os sentimentos gerados pelo erro admitido. Ao lado do excesso de confiança, esse comportamento faz com que os gestores percam a chance de se reinventar. Um erro que pode levar organizações à falência. 

Mas é Possível Anular os Efeitos da Emoção?

Infelizmente, essa possibilidade não existe. As emoções fazem parte da nossa existência como seres humanos, assim como os riscos, as incertezas e as perdas.

Mas a ideia por trás das finanças comportamentais não é essa, afinal, os estudos não possuem perspectivas conclusivas, nem buscam oferecer soluções práticas sobre economia. O que eles oferecem é a chance de minimizar os riscos por meio do conhecimento.

Levando em conta que nosso cérebro possui limitações cognitivas, compreender os padrões de comportamentos que influenciam nossas decisões ajuda a criar reflexões e direcionar o foco para escolhas conscientes. Algo primordial tanto nas finanças pessoais, quanto em âmbito corporativo.

Gestores apoiam decisões racionais em planilhas e ferramentas analíticas, porém não devem ignorar o que sentem em relação a um investimento ou qualquer outra deliberação interna. Como os dois lados caminham juntos, tentando assumir o controle a cada instante, precisamos permanecer atentos aos atalhos para que a análise de dados não seja desprezada em um momento decisivo.

O melhor caminho é entender as restrições comportamentais e, a partir daí, aprender a controlá-las. Pode ser uma proposição vaga, porém saber administrar emoções e crenças continua sendo a solução mais eficiente quando se fala em localizar erros, realizar bons investimentos e organizar suas estratégias financeiras.


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