Conheça a energia maremotriz, uma fonte limpa e sustentável que tem muito potencial para crescer.

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Em 2015, a ONU (Organização das Nações Unidas) propôs a Agenda 2030, um documento que reúne países, empresas e membros da sociedade civil em torno dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Entre as metas estipuladas por esse pacto global, vale destacar a industrialização sustentável, o consumo responsável, a busca por fontes de energia limpa, a recuperação de ecossistemas e outras medidas que visam combater a mudança climática.

Em conjunto com outros acordos internacionais sobre a emissão de gases tóxicos na atmosfera, a Agenda 2030 incentiva a busca por soluções alternativas em diversos setores produtivos. Quando se fala especificamente de energia, um dos caminhos essenciais é expandir a matriz elétrica na esperança de depender cada vez menos de alternativas mais nocivas para o planeta.

É nesse contexto que a energia maremotriz – ou a energia das marés – voltou a ganhar espaço, despontando como uma opção renovável que gera poucos impactos ambientais durante a geração de energia.

O que é Energia Maremotriz?

A energia maremotriz se aproveita dos oceanos de duas maneiras distintas: por meio do desnível das marés ou das correntes marítimas. Em ambas situações, o processo é semelhante ao de uma usina hidrelétrica.

É necessário construir barragens próximas ao mar para que a água seja captada e armazenada em diques. No primeiro caso, essa parte do processo acontece durante a alta da maré, passando por uma turbina responsável pela geração de energia elétrica. Quando a maré fica baixa, a mesma quantidade de água passa novamente pela turbina e retorna ao mar.

Já no caso das correntes oceânicas, a turbina precisa ser instalada no fundo do mar para gerar energia elétrica durante a passagem dessas massas de água que se movimentam pelo planeta.

Vantagens

Naturalmente, o principal benefício da energia maremotriz está ligado ao fator sustentabilidade, uma vez que se trata de uma fonte inesgotável e que não libera gases poluentes.

Além disso, é possível citar que a produtividade das usinas não depende do clima, como acontece com a energia solar ou eólica. Apesar de possuírem um caráter intermitente (no caso das marés, as variações acontecem a cada 12 horas), o cálculo das oscilações depende de uma quantidade menor de variáveis do que a incidência solar.

Desvantagens

O grande desafio que cerca a utilização acessível da energia maremotriz é geográfico. Como as usinas dependem de desníveis superiores a 7 metros para funcionar, suas instalações ficam restritas a poucos locais que possuem as características propícias.

Essas regiões, por sua vez, serão afetadas pela construção de barragens. Ainda que os efeitos sejam menos expressivos do que aqueles que acompanham as usinas hidrelétricas, existe o risco de a fauna e a flora sofrerem com as modificações do ecossistema.

Para completar, a combinação entre o baixo aproveitamento energético e altos investimentos também pesa contra essa fonte. Por mais que muitos pesquisadores já estejam estudando alternativas que aumentem a capacidade de produção, o valor dos equipamentos é largamente influenciado pelo uso de materiais que resistem à corrosão provocada pela água salgada.

Em entrevista concedida ao Uol, Gustavo Assi, professor de Engenharia Naval da USP, revelou que cada quilowatt (kW) instalado custava em torno de 4.400 euros. Isso significa que o custo para gerar 1 megawatt (MW) seria superior a 4 milhões de euros, enquanto a usina de Itaipu alcançaria a mesma marca pela metade do valor.

No entanto, o próprio Assi defende que algumas desvantagens devem ficar em segundo plano para avaliarmos os benefícios a longo prazo. Uma das saídas que contorna os pontos negativos é a alimentação de instalações offshore (em alto mar) de petróleo e gás com essas turbinas, substituindo a queima de combustíveis fósseis por uma fonte limpa e sustentável que depende apenas do mar.

Energia Maremotriz
Usina Maremotriz de La Rance, na França 

Passado, Presente e Futuro

Usar a força dos oceanos como fonte energética não é uma ideia nova. Versões primitivas da energia maremotriz são usadas na movimentação de pequenos moinhos em alguns países europeus, como a França, desde o século XI.

Na década de 60, os mesmos franceses executaram o primeiro grande projeto de energia maremotriz com a construção de uma barragem no Rio Rance. Esse é o mesmo sistema que vem sendo usado, de forma pontual, no Japão, na Coreia do Sul, na Inglaterra e nos Estados Unidos.

Entretanto, graças à evolução dos equipamentos, 2021 deve ficar marcado como o ano em que foi lançada a maior turbina flutuante do mundo. Uma opção que, segundo os cientistas envolvidos, pode substituir o sistema de barragens por uma solução mais prática e barata.

O modelo, projetado pela empresa escocesa Orbital Marine Power, tem capacidade para atender aproximadamente 2.000 residências no Reino Unido, evitando assim a emissão anual de 2.200 toneladas de gás carbônico (CO2).

A Energia Maremotriz no Brasil

Se pensarmos na geração de energia maremotriz por meio de barragens, as localidades com maior potencial estão nas regiões Norte e Nordeste do Brasil por conta dos desníveis de maré superiores a 7 metros. Entre os destaques estão o estuário do Rio Bacanga, onde a Universidade Federal do Maranhão já desenvolve um projeto-piloto, e a Ilha de Macapá (AP).

Em 2012, no Ceará, também foi instalado um projeto-piloto no Porto do Pecém. O objetivo dessa usina, financiada pela Tractebel Energia em parceria com o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), seria gerar energia suficiente para abastecer o próprio porto.

De acordo com uma reportagem publicada pelo jornal O Globo em 2014, o projeto foi abandonado após fim do contrato de pesquisa com a Tractebel, sob alegações de que o protótipo necessitava de melhorias tecnológicas.

Energia Maremotriz
Usina Maremotriz do Porto do Pecém (Fonte: Ecivil UFES)

O grupo ensaiou uma retomada em 2017, mas as obras de expansão que estavam sendo realizadas no Porto do Pecém contribuíram para o seu abandono completo. Atualmente, a proposta é instalar um novo protótipo no litoral do Rio de Janeiro.

Por um lado, essa notícia deixa claro que a energia maremotriz precisa percorrer um longo caminho antes de ser uma realidade no Brasil. Por outro lado, no entanto, a expansão dos estudos para o Sudeste sugere que outras regiões também poderão aproveitar a energia das marés no futuro.

Nosso país possui por volta de 8 mil quilômetros de litoral. Um artigo publicado pela USP estima que, com a diminuição dos custos e o avanço da tecnologia, o Brasil teria potencial para gerar 87 gigawatts (GW) de energia por meio de usinas movidas por ondas. Caso 20% desse montante fosse convertido em energia elétrica, alcançaríamos o equivalente a “17% da capacidade total instalada no país”.


Em outras palavras, a energia maremotriz tem capacidade para transformar a matriz energética brasileira no futuro. Trabalhando em conjunto com outras fontes renováveis que recebem cada vez mais investimento, ela reduziria o uso das termelétricas, permitindo-nos construir uma sociedade adaptada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.


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