Conheça o conceito, as características de implementação e os melhores exemplos de cidades inteligentes.

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O uso da tecnologia em prol do desenvolvimento sustentável está em pauta nas discussões mundiais há muito tempo. Isso é uma consequência direta da percepção de como o consumo desenfreado e a exploração de recursos finitos afetam a economia, o meio ambiente e a sociedade em todas as instâncias.

A união entre inovação, sustentabilidade e qualidade de vida incentivou o investimento em edifícios inteligentes. Construções que utilizam inteligência artificial e sensores automatizados com o objetivo de aprimorar as condições de moradia e o aproveitamento de recursos.

O próximo passo é viver em cidades inteligentes. Um conceito que se consolidou em pouco tempo como uma peça fundamental do nosso futuro, movimentando o mercado de soluções tecnológicas e abrindo espaço para uma convivência mais humana e próspera nas próximas gerações.

A necessidade de viabilizar essa proposta é tão grande que, segundo o jornal português Expresso, a pandemia da covid-19 acelerou a modernização de infraestruturas e sistemas de segurança municipais em todo o mundo. Entre os líderes entrevistados, 65% declararam que a importância de investir em cidades inteligentes foi a grande lição deixada pelo ano de 2020.

Mas o que São Cidades Inteligentes?

Abordar os conceitos de edifícios e cidades em conjunto sugere que estamos falando de um coletivo, em que a união de prédios inteligentes forma uma rede de comunicação automatizada que pode ser chamada de cidade inteligente.

No entanto, ainda que a presença dessas construções seja decisiva, a ideia é aplicar a definição de edifícios inteligentes em um escopo ainda maior. 

Cidades Inteligentes

As cidades inteligentes são aquelas que utilizam seu potencial tecnológico de maneira estratégica com o intuito de otimizar a qualidade de vida dos seus habitantes. Para isso, soluções inovadoras são colocadas à disposição de campos como a mobilidade urbana, a saúde pública, a educação, a coleta de lixo, o desenvolvimento social e a proteção ambiental.

Um conjunto de atitudes, ideias e práticas que trabalham lado a lado com a análise de dados, a adoção de medidas sustentáveis, o comprometimento de organizações privadas, a transparência dos governos e o engajamento dos cidadãos.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo McKinsey Global Institute, a integração de todas essas pontas influencia os indicadores em diversas esferas sociais. Entre as melhorias mais expressivas estão: o aumento da segurança, a diminuição do custo de vida, o crescimento da geração de empregos, a redução dos danos ambientais, a ampliação da participação cívica e a queda do número de mortes.

Como Ser uma Cidade Inteligente?

Cidades inteligentes não surgem de uma hora para  a outra, porém, ao contrário do que muita gente pensa, não é obrigatório criar um projeto do zero. Existem exemplos de cidades onde a integração tecnológica foi realizada desde o início, entretanto a evolução também é um caminho viável.

Só precisamos lembrar que um processo como esse exige muito planejamento e comprometimento de todas as partes envolvidas, incluindo governantes, políticos, funcionários públicos, empresários e moradores.

Considerando que cada região possui necessidades específicas, o primeiro passo dessa transição está inevitavelmente ligado à localização de demandas, à listagem de possíveis soluções e à criação de uma estratégia de implementação.

Dentro disso, é possível adaptar a infraestrutura do município por meio de recursos como câmeras de monitoramento, sensores, aplicações gerenciadas de acordo com as atitudes do usuário, sistemas atualizados a partir da previsão do tempo e por aí vai. As possibilidades são quase infinitas e tendem a aumentar graças ao avanço contínuo das tecnologias.

Cidades Inteligentes

Para exemplificar, vale pensar nas aplicações encontradas com frequência em edifícios inteligentes. O desligamento automatizado de lâmpadas, a construção de jardins verticais, o reaproveitamento de água para lavar calçadas e o consumo de fontes de energia renováveis fazem parte das soluções que podem ser aplicadas em maior escala nas cidades inteligentes.

No entanto, esse é só o início de uma longa lista de tópicos, ideias e tecnologias que influenciam a qualidade de vida dos cidadãos. Clint Vince, presidente de uma organização especializada no assunto, escreveu um artigo de opinião em que citou 14 pilares que devem ser levados em conta durante uma abordagem inteligente:

Governo e Políticas Públicas

Muito além da instalação de sensores ou câmeras, esse pilar trata de liderança forte, estratégias criativas e engajamento. Não é composto por tecnologias, mas é parte essencial de um processo que envolve iniciativas inovadoras, experimentações e possíveis falhas.

Regulamentação

Esse tópico refere-se à estrutura regulatória que permite a adoção de medidas tecnológicas. A transição para uma cidade inteligente envolve mais diretrizes do que um único edifício, logo, depende de incentivos, isenções e regras que garantam a confiança dos cidadãos.

Tecnologia e Inovação

Aqui começamos a falar diretamente de tecnologias, apesar de restringir o diálogo a aplicações gerais. A implementação de computação em nuvem e ferramentas de análise de dados é parte fundamental da construção de uma gestão inovadora e eficiente.

Telecomunicações

Como o próprio nome indica, esse pilar fala sobre a importância de investir em aplicativos que promovam a integração de dispositivos e o compartilhamento de dados, otimizando tanto atividades diárias quanto a tomada de decisões.

Cidades Inteligentes

Segurança

É impossível negar que a segurança é um fator fundamental das cidades inteligentes em qualquer instância. Ela possui papel importante no compartilhamento de dados, mas também deve ser lembrado durante a implementação de câmeras e sistemas que possam reduzir o tempo de resposta de policiais, bombeiros e ambulâncias.

Finanças, Investimentos e Desenvolvimento Econômico

Pensando em um pilar mais amplo, esse tópico engloba desde mecanismos de financiamento que ajudam a capitalizar a transformação da cidade até o desenvolvimento econômico de todas as partes interessadas. Melhorias que atraem investidores e influenciam bastante na qualidade de vida da população.

Transporte e Mobilidade

Não podemos falar sobre cidades inteligentes sem abordar a gestão eficiente do tráfego, a otimização de vias públicas, a criação de um sistema de transportes integrado, o monitoramento constante de estradas e o uso compartilhado de veículos. Tais atitudes facilitam a otimização da mobilidade urbana e, em alguns casos, a redução da emissão de gases poluentes.

Energia

Esse pilar é composto por inúmeras soluções importantes. Temos a universalização de fontes renováveis, a implementação de veículos elétricos, o gerenciamento automatizado de sistemas de iluminação e outras possibilidades que aumentam o bem-estar e a sustentabilidade da região.

Água

Tecnologias inteligentes devem ser usadas na distribuição da água, na gestão de sistemas que permitem a reutilização e na criação de campanhas personalizadas sobre a importância do recurso. Tudo com o propósito de construir uma cultura de consumo mais eficiente.

Edifícios e Espaços Verdes

Dentro de uma estratégia sustentável, a construção de espaços verdes busca aumentar o acesso dos moradores ao meio ambiente, incentivar a prática de exercícios e influenciar a temperatura geral da região. Ainda que nenhum desses objetivos dependa da tecnologia, eles exercem um papel fundamental no aumento da qualidade de vida.

Meio Ambiente, Saúde e Segurança

Reunidos em um mesmo grupo por Clint Vince, esses tópicos estão entre os mais importantes de uma cidade inteligente. Não existe transição sem o gerenciamento eficiente de energia e água, a construção de plantações verticais, a redução das emissões, o mapeamento de crimes, o investimento em atendimento médico remoto ou a integração aprimorada de setores da saúde pública.  

Cidades Inteligentes

Consumidor e Infraestrutura Social

Nesse pilar, vale ressaltar que cidades inteligentes são inclusivas e igualitárias. O ideal é que toda a população, independentemente de idade, raça ou classe social, tenha acesso aos serviços e recursos disponíveis. Sem isso, os índices de bem-estar despencam ao mesmo tempo em que os dados analisados ficam incompletos.  

ONGs e Universidades

Instituições não governamentais e universidades são ótimas parceiras em projetos de inteligência. Podem colaborar com a identificação de necessidades, a criação de redes solidárias e a organização de projetos-piloto voltados para a tecnologia.

Melhores Práticas Globais

Uma cidade inteligente precisa estar conectada interna e externamente. Isso significa que, além de prestar atenção nas demandas da própria região, os gestores devem analisar as soluções propostas em outras localidades. Com isso, é possível adaptar e aplicar ideias testadas e aprovadas.

Os Exemplos de Cidades Inteligentes

Considerando que a maioria desses pilares pode ser composto por centenas de soluções que conectam tecnologia, segurança e sustentabilidade, reunir soluções implementadas em cidades inteligentes é mais prático do que listar aplicações em potencial.

Essa seleção se baseia em dois parâmetros: o estudo Cities in Motion, publicado pela IESE Business School, e a lista organizada pela CSC (Connected Smart Cities), uma organização brasileira que reúne empresas, entidades e governos em prol da inovação em cidades.

Para efeito de comparação, o estudo global da IESE avalia os concorrentes por meio de nove critérios: tecnologia, planejamento urbano, transporte e mobilidade, meio ambiente, governança, economia, coesão social, capital humano e projeção internacional.

Já a CSC constrói seu ranking a partir dos seguintes tópicos: mobilidade e acessibilidade, meio ambiente, urbanismo, tecnologia e inovação, saúde, segurança, educação, empreendedorismo, energia, governança e economia.

Cidades Inteligentes
Foto: Unsplash

Londres

Líder do ranking da IESE, a capital da Inglaterra se destaca no quesito mobilidade urbana por conta de um sistema de transportes que integra metrô, trem, ônibus, táxis e bicicletas.

Atuando em conjunto com a taxação de veículos poluentes e a possibilidade de acessar meios de transporte com apenas um cartão, a cidade agiliza a locomoção dos moradores ao mesmo tempo em que reduz a emissão de gases na atmosfera.

Cidades Inteligentes
Foto: Asia Property Awards

Songdo

Essa cidade coreana é considerada uma referência por ter sido planejada como uma cidade inteligente desde o princípio. Toda a infraestrutura de Songdo foi pensada a partir de soluções tecnológicas e sustentáveis.

Os edifícios estão conectados a sistemas que monitoram energia, alarmes de incêndio e outros aspectos da manutenção. A coleta de lixo também é realizada de forma totalmente automatizada, usando canais pneumáticos que levam os resíduos depositados nos apartamentos até uma central que gera energia a partir da queima ecológica desses detritos.

Essas ideias otimizam as construções, facilitam a vida dos cidadãos, reduzem a circulação de caminhões pelas ruas e diversificam a matriz energética do município.

Foto: Unsplash

Barcelona

Apesar de a sua construção não estar ligada ao conceito em questão, Barcelona é uma cidade planejada. Isso, por si só, já ajuda na implementação de algumas práticas.

Uma delas é a instalação de escotilhas que recolhem o lixo de hora em hora. Os resíduos atravessam o município em uma tubulação localizada na superfície, encerrando sua jornada em uma central de coleta que os separa entre recicláveis e orgânicos. Os primeiros são reutilizados em um ciclo de economia circular, enquanto a outra parte é transformada em biocombustível.

Cidades Inteligentes
Foto: Unsplash

Amsterdã

A capital da Holanda é mundialmente conhecida pela utilização em larga escala das bicicletas como meio de transporte. Por conta disso, a implantação de práticas inteligentes priorizou essa área com a construção de ciclovias e estacionamentos especializados.

No entanto, as propostas sustentáveis se estendem para o setor de transporte público. O Clean Air Action Plan propõe a substituição de todos os veículos movidos a diesel por opções que funcionam a base de hidrogênio ou eletricidade, buscando zerar a emissão de carbono nesse campo.

Foto: Maurilio Cheli/SMCS

Curitiba

Uma das cidades brasileiras que se destaca na lista da IESE, Curitiba é conhecida como capital ecológica graças à construção de áreas verdes, ao programa de coleta seletiva e ao sistema de transporte composto por veículos híbridos movidos a eletricidade ou biocombustível.

A criação do Ecoelétrico expandiu esse conceito para a frota de carros utilizada em serviços públicos. Divididos entre a Guarda Municipal, a Secretaria Municipal de Trânsito e o Instituto de Turismo, os carros elétricos evitaram a emissão de 12 toneladas de carbono desde o início do programa.

Além disso, a prefeitura investiu na criação de aplicativos que possibilitam o agendamento de consultas médicas, a coleta de entulhos, a manutenção de calçadas e a localização dos ônibus.

Foto: Via UFSC

Croatá

O distrito de Croatá, no Ceará, não deve ficar de fora dessa lista por um motivo: ele abriga a Smart City Laguna, uma cidade inteligente projetada dessa maneira desde a sua origem.

Fruto de um programa habitacional voltado para pessoas de baixa renda, o local será equipado com sistemas de captação que garantem o reaproveitamento da água da chuva, irrigação automatizada, tubulações subterrâneas por onde passam a fiação elétrica, internet liberada em espaços institucionais e estações de compartilhamento de carros.

Tal estrutura, viabilizada pelo Grupo Planet, preencherá 330 hectares com avenidas comerciais, polos empresariais e uma área residencial com capacidade para 25 mil habitantes.

Foto: Jornal Povo

Búzios

Classificada em 2012 como “a primeira cidade inteligente da América Latina”, Armação dos Búzios se tornou um laboratório de soluções liderado pela Ampla, concessionária de energia elétrica que atua em 66 municípios do Rio de Janeiro.

Entre as tecnologias implementadas desde então, destacam-se a instalação de lâmpadas automatizadas, medidores de energia inteligentes, usinas solares e tomadas que permitem o desligamento de aparelhos via aplicativo. Tudo isso promete gerar uma redução de até 80% no consumo de energia em residências, comércios e escolas.


Em 2019, a ONU (Organização das Nações Unidas) previu que 70% da população mundial viverá em áreas urbanas até 2050. Com esse crescimento, a criação de cidades inteligentes se torna um pilar fundamental do nosso futuro.

É necessário que governos, universidades, empresas e cidadãos trabalhem unidos em prol da implementação de soluções tecnológicas e inovadoras em diversos âmbitos sociais. Isso é o que viabilizará, no presente e no futuro, uma convivência significativamente inclusiva, sustentável e agradável entre os seres humanos e o planeta Terra.


Quer conhecer outras práticas que mudam o planeta? Confira todos os textos sobre inovação e sustentabilidade do nosso Blog.

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